sábado, 30 de junho de 2012

Diálogo entre góticos:

- Convidaste o Fernando para a sessão de auto-mutilação?


- Convidei e ele cortou-se.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

a história de um cozinheiro

Nascido em Pedorido, Castelo de Paiva, e tendo perdido o pai muito novo, Jacinto tornou-se no cozinheiro mais elegante do norte do país, afirmando ser também o dono das mãos mais bonitas dentro da sua profissão.
Com os seus cinquenta e poucos anos e possuidor de uma psicologia profunda, Jacinto muitas vezes vence discussões com o argumento - 'vocês são uns burros!' - ou então com outro favorito dele - 'a minha sobrinha é médica!'.
Benfiquista ferrenho, sabe a história toda do seu clube e mantém na memória todas as datas relacionadas com o mesmo. Irreverente, porém, garante que Jorge Jesus é homossexual.
As suas actividades favoritas são: cozinhar, viajar, divulgar o seu extracto bancário em voz alta e adormecer em estabelecimentos comerciais.
Apreciador de um bom vinho, nunca foi visto a beber água em público.
Requintado no que diz respeito a compras, tem o hábito de inventariar tudo o que tem vestido e de descrever minuciosamente todas as suas refeições.
Como o conquistador nato que é, Jacinto já teve relações sexuais com mais de mil mulheres, sendo que nem todas elas eram prostitutas.
Ele é também um homem de grandes contactos. Uma vez, quando cozinhava na tropa, cruzou-se com o General Ramalho Eanes.
Aventureiro, apetrecha-se de estimulantes e preservativos dos mais variados tipos, de cada vez que vai viajar.
No relato de uma das suas viagens, ele afirma que as cabo-verdianas eram pequeninas, mas que as Italianas eram enormes; 'tinham todas para aí um metro e tal!' - disse ele.
Jacinto é também um virtuoso. Ele é especialista em tudo o que alguém possa eventualmente estar a fazer à sua volta.
Contudo, vive sozinho, pois ainda não encontrou uma mulher capaz de lidar com tanta versatilidade.
Apesar da sua vasta psicologia e compreensão, tal como o mortal comum, Jacinto sente-se por vezes intrigado com situações do quotidiano; confessando que as gajas que pintam o cabelo de loiro e depois, quando tiram as cuecas, têm aquilo lá em baixo tudo preto, lhe fazem 'uma puta de uma confusão!'.
Retratando-se a si mesmo como 'um filho da puta' e 'um má língua', Jacinto tem um grande sentido de humor. Ele acha imensa piada a paneleiros e já foi visto por diversas vezes a enfeitar o cabelo com papeis, só para fazer as outras pessoas rirem.
Todavia, não brinca com a saúde. Ele tem problemas cardíacos e pode mesmo vir a necessitar do implante de um papmixer. Além disso é muito higiénico e revelou que após lavar os dentes, gargareja sempre com astérix.
Sempre a par das novas tecnologias, Jacinto possui uma máquina fotográfica Olimpikus e um MP4 com dois Gibas de memória que usa para ir para o café ouvir o relato dos jogos que estão a ser transmitidos na SportTv e dessa forma estragar os jogos a toda a gente.
A sua irreverência, no entanto, já lhe causou dissabores, tendo uma vez sido posto fora de um bar por energicamente gritar para o DJ - 'tu és um burro!' - e com isso causado que algumas pessoas fizessem de conta que não o conheciam.
Jacinto também tem os seus heróis, sendo um deles o seu falecido avô, que segundo ele, era um homem que resolvia todos os seus problemas com a ajuda de um pau.

[continua]

terça-feira, 19 de junho de 2012

Foda-se...

Duas raparigas entram juntas num café e cada uma delas pede o respectivo pequeno almoço. Acomodam-se ambas frente a uma mesa, lado a lado, e procedem com a refeição. Após isso cada uma delas retira um smartphone do bolso e ficaram no estabelecimento durante cerca de uma hora adicional.

Durante todo este período de tempo nenhuma delas proferiu uma única palavra, ou sequer trocou um olhar com a outra.

Foda-se!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

'fado linguístico'

Há algo que me deixa profundamente irritado - direi mesmo fodido, se me for permitido usar todo o espectro lexical; e porque não, o blog é meu! - e é o facto de termos o privilégio do acesso a esta maravilhosa tecnologia, que mantém toda a informação do mundo ao alcance de um teclado, e no entanto as pessoas estão cada vez mais burras.
Toda a informação do mundo nos nossos dedos e no entanto as pessoas usam-na para pesquisar pornografia com animais e para ver gatos e cães a fazer o pino.
E a decadência da nossa língua... Agora toda a gente escreve com 'x' e 'k'; sem pontuação, sem gramática. Alguns com preguiça de escrever correctamente - não vão os caracteres adicionais causar uma hérnia de esforço -, outros porque estão tão habituados a esta pseudo-linguagem que acham que o próprio Camões escreveu 'Os Lusíadas' com recurso a 'x' e 'k'. Com estes últimos, refiro-me a estas pitas da nova geração - e note-se que ao mencionar 'pitas', estou a incluir os dois géneros; para mim é tudo do mesmo e a designação faz sentido para ambos! - que adoptaram esta forma anormal de escrita, sem sequer saberem como e porquê é que ela teve início.
Para quem não sabe, passo a explicar: o uso constante de 'x' e 'k' remonta ao tempo em que as SMS eram pagas, e todos os caracteres que conseguíssemos poupar eram preciosos. Toda a ideia era salvar uns cêntimos, de forma a conseguir enviar o máximo de SMS possível com cada carregamento do cartão. E porra, às vezes nem vogais usávamos! Contudo, aquela pseudo-linguagem não era de todo algo que achávamos ser correcto e o seu uso era quase exclusivamente aplicado nas SMS, sendo que rapidamente voltámos a escrever de forma decente após estas deixarem de ser taxadas. Pelo menos alguns de nós... Outros prosseguiram e eventualmente fizeram disso moda. Uma moda que dura até hoje e cada vez mais se demonstra uma ávida assassina da língua portuguesa, com o suposto fascínio de ser diferente. Toda a gente quer ser diferente, hoje em dia. Pois bem, se a diferença entre esta gente e os demais é a sua estupidez bem acima da média, não me parece que isso seja um grande motivo de orgulho e talvez a devessem guardar para eles mesmos.
A magnitude do problema é tal, que já afecta a língua na sua forma verbal! Alguns putos já não se riem, simplesmente dizem 'lol'. É algo triste.
Um pequeno facto: dos quase 7000 idiomas falados no mundo, o nosso é o 5º mais falado - algo que demonstra a grandiosidade do nosso povo, que em tempos dominou meio mundo.
Aposto que consigo encontrar um qualquer mercante em Timor-Leste, que fale e escreva melhor a nossa língua que qualquer uma destas pitas que habitam nas redes sociais!
O Facebook parece o campeonato da estupidez, onde toda a gente é candidata ao título. Basta abrir a página inicial e contemplar a quantidade massiva de erros que lá publicam. Para mim é perturbador, dado que fico verdadeiramente exasperado com este tipo de situação. Portanto comecei a bloquear as actualizações destes indivíduos, poupando-me a instintos homicidas de cada vez que vou ao Facebook. Porque na verdade, só eu é que me importo com isso. É cada vez mais vulgar e característica a mentalidade do 'não quero saber' a cada geração que passa. Parece que até há um certo orgulho em ser ignorante.
Testem isso vocês mesmos: coloquem uma questão a algum destes pequenos jumentos e aguardem pela resposta, que será algo do género 'Sei lá! Achas que eu sei isso?' - com um pequeno sorriso demente a acompanhar. Eles gostam de não saber. É 'fixe'.
'As crianças são o nosso futuro!' - dizem eles. Não me parece. Não me imagino, por exemplo, a ter um presidente que não consegue escrever uma frase inteira sem barbarizar a língua portuguesa. Mas, numa segunda observação, não acho que estejamos assim tão longe de tal coisa.

Eventualmente esta nova forma de comunicação vai integrar-se no quotidiano. Toda a gente vai ter o seu próprio dialecto e a língua oficial do nosso país vai ficar enclausurada em livros.
Todos os dias vão ser inventadas novas palavras e a maioria delas vai singrar.
Os dicionários vão passar a incluir tudo o que é calão e escrever com 'x' e 'k' vai ser algo normal e talvez até aceite a nível académico.
As poucas bibliotecas que hoje existem, vão fechar, e dar lugar a bares e pequenas galerias comerciais.
Nunca mais teremos um Nobel da Literatura.

E quando esses tempos chegarem, eu vou simplesmente orgulhar-me por já estar morto.





Provavelmente ninguém vai ler este texto, dado que é muito longo e toda a gente sabe que se é muito longo, certamente não vale a pena. De qualquer forma, senti necessidade de o redigir.
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