sábado, 14 de maio de 2011

"família à antigamente"

Eu ia começar com boa noite, mas como não sei a que horas vão ler isto: olá.

É verdade que eu não tenho por hábito 'falar' da minha vida pessoal, mas há pouco tempo ouvi uma história fascinante acerca da minha família e decidi partilhá-la com quem efectivamente a quiser ler.
A narrativa original foi-me relatada por um tio que tem um sentido de humor muito apurado e portanto vou tentar manter-me fiel a algumas das expressões que ele usou, enquanto redijo o texto.
Após a história não vou fazer qualquer tipo de comentário adicional, pois acho desnecessário, dado que o que se segue está algures no limiar da perfeição.

Então foi assim:

A história passou-se há uns bons 35 ou 40 anos atrás[obviamente...], quando a minha mãe, a sua irmã [minha tia] e os seus 2 irmãos [meus tios, portanto] eram crianças e viviam num regime militar que foi implantado pelo seu pai [meu avô, que não tive oportunidade de conhecer], que tinha uma "postura de general" e era temido por toda a gente; especialmente pelos filhos e até pela própria mulher.
O meu avô é descrito como uma pessoa extremamente severa, capaz de aplicar sem sequer pestanejar ou demonstrar um átomo de sentimento, punições que nos tempos que correm, poderiam até ser consideradas desumanas. Nomeadamente, obrigar os filhos a alimentarem-se unicamente de broa e água durante uma semana inteira [e a minha avó que não ousasse sequer sonhar acerca de lhes dar comida!]. Isto para não falar da porrada que frequentemente levavam e que "era como se estivesse a bater num homem da idade dele!".
Contudo, até a violência pode ser engraçada, principalmente quando ouvimos relatos acerca de um "biqueiro com a ponta do sapato que acertava sempre direitinho no olho do cu, que era como se ele tivesse treinado aquilo durante toda a vida!".
Mas voltando à história, esta passou-se numa noite em que, como habitual, o meu avô mandou a minha mãe e os meus tios para a cama muito cedo e eles sem sono, decidiram ficar a brincar no quarto [o quarto deles ficava no andar de cima, exactamente por cima do quarto do meu avô]. Então um dos meus tios; o mais novo, que era o mais rebelde e que segundo o meu outro tio "tinha uma panca acentuada", lembrou-se de subir para o topo de um armário e saltar para cima da cama enquanto gritava "sou o Super Homem!", várias vezespara delírio da minha mãe e dos restantes irmãos, que se riam com aquilo enquanto assistiam sentados no chão.
Naturalmente aquela brincadeira fazia algum barulho e eis que subitamente surge um olho e o perfil de uma cabeça entre a porta que estava um pouco aberta e a parede e que "parecia um dinossauro no Jurassic Park" [consta que o meu avô teria subido as escadas até ao quarto, às escuras e sem fazer o mais pequeno ruído que pudesse denunciar a sua presença, com a perícia e subtileza de um felino que se aproxima da sua presa, antes de a atacar e lhe quebrar o pescoço].
Aqueles que estavam sentados congelaram de imediato e o sorriso desapareceu. O olho que se intrometeu no quarto observava atentamente o irmão mais novo que não se apercebera ainda da sua presença e preparava-se para saltar novamente. O olho aguardou pacientemente, focado na criança que estava em cima do armário. A criança saltou e gritou "sou o Super Homem!". Agora já não era só a cabeça dentro do quarto, mas sim toda aquela figura, na sua postura imponente, que inquiriu de forma altiva "o que estás a fazer rapaz?"; ao que o pequeno respondeu, com toda a inocência e bastante amedrontado "sou o Super Homem, pai...". Numa fracção de segundo o rapaz levou um estalo tão violento que bateu com a cabeça no armário, para horror dos irmãos.
O pai virou costas e preparava-se para abandonar o quarto, até que ouviu o filho a chorar. Então o pai virou-se para trás e disse num tom de voz cínico "o Super Homem não chora." e foi embora.
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